Quero penetrar-te o ânus,
Ouvir-nos ao tom gemebundo
Do fogo que faz girar o mundo,
Entre nossos sôfregos abanos.
Quero pôr-to na boca,
Sentir-ta assim cheia,
Em tua língua de geleia,
Qual fero animal em doce toca.
Quero habitar-te a vagina,
Que é como ter-te toda,
Não apenas mera foda:
Coisa bem mais dina.
anno 2005
32 comentários:
A este pequeno poema, escrito há uns anos (ignore-se a pouca estética que lhe reservei, ainda que o tenha tentado recuperar aqui e ali), fiz aqui publicar por mor do que pretende: apelar àquilo que durante tanto tempo foi mascarado de coisa má, pelo simples facto de nunca ter sido assumido. Hei, foi daqui que todos viemos! - devia ser suficiente... Mas esses, que a tal infortúnio sujeitaram algo tão bom e benéfico como o sexo (que a sociedade, tanto em domínios colectivos como particulares, ainda acha escandaloso, muito provavelmente por nunca terem sabido, ou terem tido a oportunidade de bem escolher os seus parceiros), simplesmente nunca o fizeram bem... Resumindo: o sexo é uma das formas de amar.
Ai Meu Deus, Tiago!
Não vais concorrer com este poema, não?
ahah :)
ahahah! só se fosse atrás da cortina! :)
Não. Seria uma grande responsabilidade... Já viste o que era, pôr a plateia toda a vir-se? uh-uh!
Caro amigo,
Nada mais transparente do que chamar as coisas pelos nomes. A verdade que existe, que se sente e sabe, mas decora-se com nomes mais brandos...foda é foda, sem mais nomes.
Caro Anónimo
sim. posso concordar, ainda que, decerto, a maioria lesse nessas palavras, «foda é foda», um reconhecimento leviano da coisa. tal como fiz questão de ressalvar o carácter explícito do meu próprio poema, com um comentário aqui deixado, dirijo o mesmo à expressão em questão. as coisas são o que são, mas as mentalidades não... foda é o que é, mas, quanto a mim, distende-se inevitavelmente nas demais repercussões semânticas, devido, precisamente, ao que é.
e isto não é um sermão!
obrigado! :)
Sim, se estivermos enamorados o sexo, em princípio, será mais intenso, logo esta expressão mais gráfica é amorosa - do amor, seguramente. :)
Exacto. Por isso ñ hesitei em encimar o poema com o título q lá está. Mesmo embora não repugne de todo o sexo pelo sexo. Mas não será tão interessante, num prazo mais alongado.
E o poema pretende tb apelar à noção tacitamente sacro-cósmica(sem querer abusar da expressão) que é a união entre os corpos: o delírio. "The one that makes you crazy. A Mandala." :)
Claro!
" Não apenas mera foda "
Gosto da sua escrita, nunca perca este seu lado "sedutor".
Obrigado, Anómino 2! :)
Sugiro que deixem um nome, ñ precisa de ser o vosso, escuso de vos estar a tratar por números ;)
Mas muito obrigado: essa é a frase, sim. É «coisa bem mais dina.»
Sim, Genet - entre outros - também disse as coisas pelo seu nome, embora o amor seja mais do que foda, pelo menos seria uma foda vinculativa e, de certo modo, aditiva.
Na nossa era do consumo irracional, todos os temas ligados à individualidade e aos seus ideais - sinais de crise - desapareceram e, em seu lugar, surge o sexo anónimo: a foda padronizada, sempre igual a si mesma. Torna-se tudo equivalente: foda é sempre a mesma foda.
Caro filósofo Francisco!, não me desacredite o sexo como já o entrevi, por entre os comentários do(s) seu(s) excelente(s) blogue(s), quase a desacreditar a Filosofia! A individualidade, ainda que dependente, em todos os domínios sociais, dos outros, não pode deixar-se cair como os outros :)
Bem-vindo e peço desculpa pela demora a aceitar o seu comentário.
Tiago
Acredito na individualidade, mas reconheço que ainda não tomei posição (positiva) em relação ao debate das tiranias da intimidade e do narcisismo, talvez já um pouco tardio face às novas manifestações... Também apreciei o seu blogue, e sobretudo um post onde aborda a animalidade do humano: uma ponte. :)
Compreendo essas tiranias de que fala: nem eu com elas compactuo, se bem que, como inevitável humano que sou, vez ou outra delas padeça. Embora aprecie o filósofo, não sou contudo sadiano; mas, se analisarmos bem, Sade tinha muito de humanista (a par do seu ódio pela estrutura psíquico do ser humano em vigor).
Quando falo de individualidade, falo, ou pretendo e procuro que isso signifique a manutenção e resistência ao mal degenerativo que de todos os lados, desde o catolicismo eclesiástico, nos ataca.
Portanto, quando falo de individualidade (positivo), não estou a falar de individualismo (negativo).
O meu post a que se refere, da animalidade no homem, deve ser o «A Serra...».
Falei em Sade, mas talvez não estivesse a incluir a categoria do egoísmo nas tiranias de que fala... Fica a adenda, para me salvar do possível desvio temático.
Sim, é "A Serra" e também o texto "Autoria vs Genitura".
Não conheço directamente Sade, a não ser por intermédio de outros autores, embora tenha algum livro dele, mas não o estudei.
Quando falei das tiranias da intimidade, referia-me à tese de Sennett do declínio do homem público. Em ligação com temas que já debatemos, o eu tornou-se, depois da cisão entre eu e mundo, devido ao advento da sociedade aberta, um fardo para cada um de nós: conhecer-se a si mesmo é hoje uma finalidade e não um meio para conhecer o mundo. No entanto, penso que vivemos presentemente alguma metamorfose ainda não compreendida, mas também não pensei sobre o assunto. Daí a sexualidade em vez do erotismo: a sexualidade está ligada à identidade pessoal; o erotismo envolve interacções sociais e é psicologicamente mais "sofisticado", talvez... ;)
:) Mas o post «Autoria vs Genitura» fala, essencialmente, do homem enquanto homem, enquanto potencial criador, e disto enquanto prerrogativa sua.
Sade é tão honesto, que é impossível de contornar - aconselho, para uma perspectiva filosófica, o «Filosofia na Alcova».
Sim, mas a individualidade de que falo não é narcísica. Por exemplo, aqui trato do sexo pelo que é, e para isso é preciso ter em conta todas as culturas da Antiguidade, isto é, a importância que davam ao sexo dentro do espaço humano e animal, categoria aceite do ponto de vista da transcendência (aqui, não divina, mas humana, um extra-estado, por oposição ao estado humoral quotidiano). Se o problema de Sennett é a privatização narcísica do eu, por oposição a interacção pública, não será o sexo um risco a esta. Quer-me parecer que o erotismo é tendencialmente bem mais narcísico, idolátrico, logo bem mais inimigo do espaço público.
Não conheço Sennett, mas, da curta investigação que fiz, o que aqui pretendo em nada atentará ao que defende.
Aqui, o sexo funciona como meio de reconhecimento e reciprocidade, consciência de que sem um não há o outro, longe da desimportância que a industrialização trouxe aos seres e que por conseguinte, parece-me, será o ponto de partida daquilo em que consiste o problema da tese de Sennett.
Vive-se uma necessidade de reencontro, mas que em muitos casos descamba, sim, numa tirania narcísica, mas que com a minha noção de individualidade - oposta a elite (catolicismo, nazismo, etc.) - se enrobustece por via do eclectismo: se compreendermos o todo, ou tanto quanto possível, a egolatria dissolver-se-á. Possivelmente... :) - Tentativa de ressalvar a preocupação a que dedico o tema da individualidade, que, repito, em nada conjugo com individualismo.
Já sei a resposta:
O título "Invicta" ou divisa textual "Antiga, muito nobre e sempre leal e invicta" foi-lhe atribuído (decretado) por D. Maria II, sendo ministro Almeida Garrett.
E deve-se ao seu heroísmo durante o cerco histórico.
Mas a lealdade vem do século XV, quando os burgueses portuenses apoiaram o Mestre de Avis na luta contra o Castelhano.
Camões usa o termo: "Lá na leal cidade..."
A toponímia revela todo esse heroísmo. Afinal, não andava longe devido à toponímia: as ruas contam a história. Não sabia que tinha sido a Maria e o Garrett.
Afinal, tinha a resposta aqui num livro... :D
Caro Tiago, agora é que li o seu poema. Admiro a frontalidade do texto- não é para qualquer um misturar em três quadras as palavras ânus, vagina e foda, além de uma referência a um broche que enche as medidas da boca da amada.
E o que é isso da coisa dina? Dina é uma referência à amada, que se chamava Dina, tal como a cantora que "pegou, trincou, e meteu na cesta"?
E então, está decidido a concorrer ao concurso da poesia à desgarrada?
Não sei se vou concorrer, escrever os textos não é complicado, pior é declamá-los, correndo o risco de ser um concorrente do ídolos.
Há que deixar essas tarefas para as Susan Boyles da nossa contra-cultura!
A intensidade do sexo mede-se/afere-se pela tesão, e o resto é paleio.
Mas palear este poema ao ouvido da/o parceira/o deve ser de empinar o leito, se ele/ela não for mouca/o.
Como grafitei nos idos de 75 na igreja da Praça de Londres: «Abaixo a hipocrisia, viva a tesão permanente» e nada de confusões com o incómodo priapismo.
Os meus vagamente entesados cumprimentos e até logo na Trama
Boa, Francisco! Agradeço! :)
Caro Lugones,
O Bocage era bem mais exemplar, mas obrigado, quis eu pagar o meu tributo a essa arrebatora entidade que é o Sexo.
Ahah, não se trata da Dina, não. «dina» é a forma sincopada de «digna». Para que a rima surgisse mais rimada, optei pela forma que refiro.
Não vou concorrer, pela mesma razão que o Lugones, não tenho jeito para audiências :)
Caro Fallorca!
«deve ser de empinar o leito», ahahah, excelente, podia fazer parte do poema :D
Curti esse grafite! E logo na igreja, a murcha! Será que ainda lá está? O grafite, claro; a igreja, com certeza. As coisas más perduram sempre...
Abraço, até à Trama!
Este poema foi tão elogiado pelo Fallorca que tive mesmo de vir espreitar!
bem, tantos comentários que ele tem despertado...
Acho que é como dizes no titulo: do amor. é mesmo assim. Não vale a pena complicar algo que o autor diz com tanta clareza :)
O que realmente me interessa no poema, é o que ele diz/pretende, pois assumo que não se presta a grandes estéticas. Mas quanto a isso, tenho ainda a acrescentar: o intelecto não é um feira de vaidades... O intuito, aqui, era essencialmente desequivocar.
É tal como entendeste :)
Ahaha, adorei!
E a chave está nos dois últimos versos.
Venham mais ;-)
Exacto, Denise! :)
Não pude deixar de verificar que a agudeza de análise irrompe toda do feminino. Mesmo o segundo anónimo que aqui comentou - julgo ser nítido - aposto tratar-se de uma anónima... :P
(isto, sem querer parecer redutor)
Gostei deste, precisamente. E apesar de toda a verbosidade que entrevi nos comentários, não deixa de ser irónico como homens sapientes ainda se deixam enfeitiçar pela «individualidade» das mentalidades.
De novo obrigado.
Comentário enigmático, esse...
Tiago,
depois veja no Corcel a nova postagem. Tentei imprimir no artigo esse cunho tão característico da sexualidade, mas não sou de modo algum dotado nessas matérias.
Sim, tem razão: o comentário é de facto enigmático, peço desculpa. O que pretendia dizer é que, apesar da sobeja liberdade - que esqueceram de mencionar nos comentários -, homens de grande inteligência ainda não se conformam com essa suposta individualidade sexual. Por muito que seja a sua agudeza de espírito, a sexualidade é sempre tema de grande loquacidade, o que é preferível evitar. Mas talvez seja um terrível equívoco meu. Queira desculpar entretanto o conto do André: não é suficientemente agradável.
Até concordo, Goggly. Mas talvez essa extrema loquacidade que refere se deva a todo o historial opressor que desde sempre tendeu a abafar o tema. A sua observação é um facto, mas talvez seja natural que assim aconteça. :)
Quanto ao seu conto, é o seu, não tem de se desculpar.
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