26 de maio de 2009

Do amor...


Quero penetrar-te o ânus, 
Ouvir-nos ao tom gemebundo 
Do fogo que faz girar o mundo, 
Entre nossos sôfregos abanos. 

Quero pôr-to na boca, 
Sentir-ta assim cheia, 
Em tua língua de geleia, 
Qual fero animal em doce toca. 

Quero habitar-te a vagina, 
Que é como ter-te toda, 
Não apenas mera foda: 
Coisa bem mais dina.

anno 2005

22 de maio de 2009



E se depois 
E se depois O sangue ainda correr Corre atrás dele 
E se depois O fogo te perseguir Aquece-te nele
E se depois O desejo persistir Consome-te nele
E se depois O sangue ainda correr Corre atrás dele
E se depois

21 de maio de 2009

Para uma possível desmistificação...


«Sou de facto o Diabo», que faz o título deste blogue, foi recuperado de A Hora do Diabo de Fernando Pessoa, e auto-sugere-se, aqui, como metáfora de contradição ao Estabelecido. A Filosofia, a Literatura e a Arte farão os meios. No compromise still!



"...and come again!"
  

20 de maio de 2009

Os olhos

nunca se fecham porque, quando se fecham (como dizemos), ficam abertos atrás das pálpebras.

3 de maio de 2009

Sou de facto o Diabo

«Mas o senhor vira tudo do avesso...» «É o meu dever, minha senhora. Não sou, como disse Goethe, o espírito que nega, mas o espírito que contraria.»
F. Pessoa, A Hora do Diabo, Assírio & Alvim

27 de abril de 2009

The Ghost Song

Awake Shake dreams from your hair My pretty child, my sweet one. Choose the day and choose the sign of your day The day's divinity First thing you see. A vast radiant beach in a cool jeweled moon Couples naked race down by its quiet side And we laugh like soft, mad children Smug in the wooly cotton brains of infancy The music and voices are all around us. Choose they croon the Ancient Ones The time has come again Choose now, they croon Beneath the moon Beside an ancient lake Enter again the sweet forest Enter the hot dream Come with us Everything is broken up and dances.

26 de abril de 2009

Da luz umbrífera

O ser humano é um projeccionista. Está constantemente empenhado em projectar a luz da sua capacidade de análise sobre os outros e as coisas. O que ele ignora é que, a maior parte das vezes, muito possivelmente, a luz que faz incidir sobre determinado objecto cria novas sombras.

17 de abril de 2009

and the meaning of life is...

(autor desconhecido. anyone?)

imagina


estavas ao computador, a escrever um texto já avançado, suficientemente importante para ti. no 8.º andar onde moras, onde estarias nesse momento, avistavas da janela, devido a um enorme ruído que te despertara a atenção, uma enorme onda, duas vezes o teu prédio, varrendo, do rio, a cidade, vindo na tua direcção. o que fazias?
fazia Save

8 de abril de 2009

O Eu é o meu corpo e o meu espírito em conjunção.

É um jogo


Sinto que fica sempre algo por escrever.
Ao deitar
Não me dou conta de adormecer
E esqueço logo.
Ao acordar
Levanto-me de novo e de novo jogo.

Sou de facto o Diabo


«Sou, por mister, Mestre da Magia, não sei contudo o que ela é.»

F. Pessoa, A Hora do Diabo, Assírio & Alvim

2 de abril de 2009

Toma-me a mão e

leva-me aonde não está o medo.
Quero mudar para lá a realidade.

Como te desejo.

Por seres assim em tanto. E eu desejo sempre demais. Na ondulação leve do mar... Nas tuas ancas balanceia todo o querer da vida, e tudo em mim oscila a acompanhar. O modo como correm ligeiras tuas pernas sobre o areal da praia ao sol como tu. Tudo... Quero o redondo que em tudo vinga. A redondez é o escopo da vida (mesmo que a não chegue a atingir). Se a rocha é sem arestas, foi porque a redondez da onda a arredondou. Quero a onda curva que circula, e o sol circular, e o céu abobadado, e o circunferente horizonte. Vontade. Quero-te. Rebolar.

31 de março de 2009

desenho 4

tiago r

23 de março de 2009

Poema

Marulho é o barulho do mar.
Barulho é o barulho do bar.

22 de março de 2009

Só poderia acreditar num deus que soubesse dançar.

Frederich Nietzsche, Assim Falava Zaratustra

21 de março de 2009

Dionysify This Night of Spring!

(taken from here)
(title quote taken from Solefald's In Hamonia Universali album)

20 de março de 2009

― Let me walk with you, sweetheart. I don't want no good to harm you.

Thank you, wolfy. We can't trust anything any more, can we?

I'm not sure, darling. But I hope so. Really do.

9 de março de 2009

Sou de facto o Diabo:


«O homem não difere do animal senão em saber que o não é. É a primeira luz, que não é mais que treva visível.»

F. Pessoa, A Hora do Diabo, Assírio & Alvim

Olho-te,

entrego-te aos sentidos, e vejo o amor a querer dar-se, querida entre teus ombros doces que sonho sentir-te com as mãos. Estás nos meus olhos, mesmo se te não olho. Ainda te não toquei com toque explícito, mas a minha ideia sabe já sentir-te como se. A minha ideia quer fazer-te próxima. Pensa em ti. O meu entender reconheceu-te. Quer trazer-te agora daí até aqui.

8 de março de 2009

Água das Pedras

Viu-se perante aquele ser e experimentou o azedo da ambivalência: linda, atraía-o; parva, repelia-o. O objecto do seu desejo multiplicara-lhe o desejo à dicotomia de um sim e de um não, qual haste una dividida em duas, e, como tal, deixou de o ser. Foi então que o seu não, acrescido em azia, o agarrou pela mão e o levou a tomar uma água das pedras. A beleza é efémera. Não pode perdurar como a personalidade.

2 de março de 2009

desenho 3

tiago r

Olho um objecto estranho.

Mas a estranheza do objecto sou eu.

(old stuff 4)

Vim desde ontem durante toda a vida até hoje. Parto só amanhã.

1 de março de 2009

Vi numa nuvem um sátiro correndo. Quero ser como tu...


A Serra...


Sob céu hiemal e pagão, debaixo de chuva e gentio trovão, fiz revisitar-me animal.

Ó Serra de quando te abraçava os troncos ásperos, de quando dormia nos teus numerosos seios, de quando eras tu a tal — «para sempre» —, mais ninguém. Ah, como eu mudei e tu continuas na mesma e eu te amo na mesma por isso mesmo, mesmo não sendo tu já a tal. Ah, como tudo muda e tu continuas na mesma e eu te amo ainda quando te revisito, hoje. Mudei mas sou eu, Serra, na mesma. Mudar é acrescentar. Obrigado por guardares o que em tempos fui. Faz com que o seja ainda. Não serás nunca elemento passado, mas sempre sim presente, como eu. Estás em mim, és-me a animalidade, sua compreensiva aceitação. Mostraste-me e ensinaste-me pureza. Eu copiava-te. Era feroz como tu, como a chuva com que tanto me molhaste e rias, como o trovão com que amiúde me inflamaste e dançavas, como o vento volante. Eu era contente e não tinha medo, envolto em todo o teu desafio natural. Cantava contigo. Lobo gentio dos teus montes, percorria-te. Lambia-te a lua, tangia-te. Adormentado nos teus mantos, sonhava-te. Lembro-me, sim... do teu luar que me cobria quente. Como se fosse o sol. Foste tão querida... Não deixaste que ignorasse o que todos hoje ignoram e temem — o princípio do ser, que em ti principia.

Mas se até tu mudas, Serra, todos os anos... E mudas precisamente para tornares a ti, renovada, que é seres outra que não a de antes, ainda que assente, basilarmente, em ti mesma.

16 de fevereiro de 2009

Quando eu era puto


Quando eu era puto, o meu desejo. Andava eu ainda na primária, terceira classe talvez. O meu desejo era ir para a escola montado num leão. Lá ia eu, na minha mente, ego sobre o dorso tamanho de amarelo esbatido, agarrado àquela juba áspera e sorrindo, entrando portão dentro como uma espécie de deus ex machina... É disto, a vida humana. De coisas que satisfaçam o ego. De coisas grandes, leoninamente, que nos permitam camuflar a nossa fragilidade. Ou não precisássemos nós tanto de ter pais, amores, amigos - todos leões que nos transportam no dorso tamanho e indispensável à satisfação e segurança do frágil Eu.
Ah... como por vezes detesto precisar de vós. Como me custa e dói a razão de vos amar.

Gota Demiúrgica


Vinha a andar e. Era noite tarda. Caiu-me uma gotícula no lábio e lambi-a. O céu estava a querer chover e disse-mo, ao ouvido da boca.

13 de fevereiro de 2009

Impressão Póstuma


Estávamos os dois num dia de sol. Era de tarde e. Estávamos sentados. Entráramos num café e sentáramo-nos. Estava muita luz. Fiquei virado para a ampla janela. Do outro lado da mesa, ela, de costas para lá, de frente para mim. Antes. Antes tínhamos vindo juntos de metro, não sei, ou encontrámo-nos ali, não me recordo. E entrámos no café, sentámo-nos. Era de um amarelo pálido, a luz que se difundia profusa. Quase não me deixava vê-la. Eu estava... A luz não me deixava ver. A luz confundia-me. A luz incomodava-me. A luz queria mostrar-me qualquer coisa mais...