Eles viram-se. Já não se viam há anos. E correram um para o outro a gritar Aaaaaah e saltaram e abraçaram-se. Abraçaram-se fortemente, em várias investidas até, na tentativa de se abraçarem melhor, isto é, com mais força. E à medida que o faziam iam dando pequenas pancadas com os braços nas costas um do outro, ainda na insistente tentativa de recuperação de abraço após abraço, ao mesmo tempo que ganiam no cio do reencontro. E as pancadinhas passaram a pancadas, aumentando-lhes sempre mais a potência, pelo que passaram a grandes pancadas, fortes, fortes! — e eram já murros. Murríssimos! Matavam-se, matavam-se naquele abraço ébrio, no apreço estúpido de quando se é estúpido. Um já lhe ia aos rins, murros nos rins do amigo, enquanto o outro lhe dava amplexos brutos na cabeça e socos no pescoço. Surgiram murros no estômago. Fodiam-se todos um ao outro mas sem nunca serem infiéis ao abraço que davam. Joelhadas. Murro nos queixos: um bocado de língua voa até à gravilha que libertava um pó esbranquiçado ao sabor da violenta amizade que se estava descomprimidamente a processar. Entretanto, na bulha completa, ambos sacam de uma faca afiada e espetam-na cada um no pescoço do outro, ao mesmo tempo. Largam-se e agarram-se à lesa novidade. Caem. E morrem. Felizes de morrer.
Depois o pó assentou.